quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Decisão do Tribunal de Recurso sobre orçamento "labora em grave erro", acusa presidente do Parlamento

Díli, 17 Nov (Lusa) - O presidente do Parlamento Nacional de Timor-Leste acusou o Tribunal de Recurso (TR) de "laborar em grave erro" no acórdão sobre o Orçamento de Estado rectificativo para 2008, segundo um documento a que a Agência Lusa teve hoje acesso.
"Mais uma vez, o Alto Tribunal labora em grave erro, aplicando instrumentos jurídico-normativos que não existem no nosso ordenamento jurídico-constitucional, e ignorando aqueles que estão em vigor", acusa Fernando "La Sama" de Araújo.
O TR, em decisão de 27 de Outubro de 2008, considerou inconstitucional a lei de alteração orçamental de 05 de Agosto "na parte que aloca ao Fundo de Estabilização Económica a quantia de 240 milhões de dólares norte-americanos".
No mesmo acórdão, a que a Lusa teve hoje acesso, o TR declarou a ilegalidade da norma que "determina o montante das transferências do Fundo Petrolífero para 2008 em valor superior a 396,100,000 (trezentos e noventa e seis milhões e cem mil dólares norte-americanos)".
O acórdão do TR deu entrada no Parlamento quinta-feira ao final do dia mas ainda não foi publicado no jornal oficial da República.
O presidente do Parlamento respondeu ao acórdão com uma reclamação que deu hoje entrada no TR e em que pede "ser declarada a nulidade de todo o processuado".
Fernando "La Sama" de Araújo pede também que seja declarada "a nulidade do acórdão por manifesta contradição entre a decisão e os fundamentos que a determinam".
O acórdão do Tribunal de Recurso deu razão a dois dos quatro principais pontos que justificaram um pedido de fiscalização de constitucionalidade da lei de rectificação orçamental, apresentado no final de Julho por dezasseis deputados da oposição.
O secretário-geral da Fretilin, Mari Alkatiri, anunciou a decisão "favorável" do Tribunal de Recurso numa conferência de imprensa em Díli, sexta-feira, salientando que o acórdão não afecta os gastos efectuados até agora pelo Governo.
"É preciso ter cuidado para que o Governo não comece a inventar recibos com datas anteriores para contornar a decisão do Tribunal", disse Mari Alkatiri em declarações à Lusa.
"Toda a atenção está agora centrada nesse detalhe", acrescentou o líder da oposição.
"Se o fizerem é crime e terão de responder criminalmente. Se não for agora será quando houver mudança de Governo", avisou Mari Alkatiri.
O líder da Fretilin acrescentou ainda que a decisão do Tribunal coloca o Governo em crise porque "se tinha planos para gastar o dinheiro não o vai poder fazer e isso precipita uma decisão de realizar novas eleições".
No mesmo dia, o porta-voz do Governo e secretário de Estado do Conselho de Ministros, Hermenegildo "Agio" Pereira, afirmou em comunicado que, "enquanto a decisão não for publicada no Jornal da República, o Governo não tem conhecimento oficial do acórdão proferido pelo Tribunal de Recurso".
"Agio" Pereira sublinhou que a "normal actividade governativa está plenamente assegurada".
O Executivo, disse ainda o secretário de Estado, "tem agido sempre com base na lei e o TR decidiu que todos os actos praticados pelo Governo até à data têm sido legais".
PRM/JCS
Lusa/fim

Howard pushed me on E Timor referendum: Habibie

Posted Sun Nov 16, 2008
Former Indonesian president BJ Habibie says a letter from then-Australian prime minister John Howard pushed him into acting quickly on independence for East Timor.
In 1998 Mr Howard wrote a letter to Mr Habibie supporting a move towards East Timorese independence within a decade.

Mr Habibie has told ABC 1's The Howard Years that the letter pushed him into a snap decision which led to the independence referendum being held six months later.
"In this letter he suggests that I have to solve [East Timor] as how the French have solved their colonies in the Pacific New Caledonia - he suggests it," he said.
"That means prepare them for 10 years or whatever and then after that give them their independence.
"So as I read that I was upset."
Mr Howard has admitted that no one thought he would move that quickly.
"The direction in which he travelled was the same direction that was requested in the letter," he said.
"It's just that he went much further. He was 20 miles instead of five."
Mr Habibie would not agree to peacekeepers being deployed to East Timor before the referendum and describes the suggestion from Mr Howard as an "insult".
In August 1999 the East Timorese people voted for independence but pro-Indonesian militia killed hundreds of people not long after.
Eventually Mr Howard secured Mr Habibie's agreement to let a peacekeeping force into the country, but he had concerns there could be a clash with Indonesian troops.
"I had in the back of my mind they might have an encounter with the Indonesians, there might be a firefight right at the beginning, you could lose 20 or 30 troops in a clash, and it was tough," he said.
Then-foreign affairs minister Alexander Downer says the government arranged to have US troops on standby in case the conflict over East Timor's independence ended up in war with Australia.
"We had American forces that could've been deployed pretty quickly as well from the Pacific, so we did have contingency plans," he said.

Woodside flags LNG options for E Timor


Posted Fri Nov 14, 2008 9:00am AEDT
Woodside is considering either Darwin or a floating platform for an LNG plant. (AAP: Kerry Edwards/Pool/The West Australian)
The head of resources giant Woodside says there could be opportunities for East Timor to capitalise on gas developments in the Sunrise field if the company goes ahead with a floating gas processing plant.
Woodside is considering either Darwin or a floating platform for an LNG plant to process gas from the field between Australia and East Timor.
East Timor President Jose Ramos-Horta has intensified calls in recent weeks for a plant to be built in East Timor, despite Woodside ruling it out earlier this year.
Woodside chief executive Don Voelte says the company is now assessing the options.
"There isn't in my mind any reason why Timor Leste can't have a lot of participation, employment, training, food stuffs, helicopter ports etc, during the operation of the offshore facility," he said.
"But at this point we haven't even started negotiations."

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Ignora-se ainda hoje quantos morreram em Santa Cruz - D. Ximenes Belo

13 de Novembro de 2008,
Aveiro, 13 Nov(Lusa) - D. Ximenes Belo, arcebispo resignatário de Díli e Prémio Nobel da Paz, disse quarta-feira que, 17 anos depois do massacre do cemitério de Santa Cruz, ainda está por fazer a contabilidade dos mortos.
Convidado para falar sobre o massacre de Santa Cruz na Biblioteca Municipal de Estarreja, D. Ximenes Belo, na época bispo de Díli, disse não se saber ao certo quantas pessoas morreram nos incidentes e relatou os momentos então vividos.
"Repito aqui o que já disse em Díli em 1991: é melhor perguntar aos indonésios porque foram eles que mataram e foram eles que recolheram os corpos. Até hoje, não sabemos exactamente quantos foram os mortos, os feridos e os desaparecidos, até porque nos meses seguintes os familiares não comunicavam que os filhos estavam desaparecidos com medo de represálias das autoridades indonésias", disse.
Para D. Xímenes Belo, o massacre de Santa Cruz foi decisivo para Timor-Leste conseguir a independência.
"Respeitando as famílias que perderam os seus filhos, podemos afirmar que as vidas dos jovens massacrados no dia 12 de Novembro de 1991 serviram de trampolim para a continuação da luta e independência de jure e de facto de Timor-Leste.
"Em memória desses jovens mártires timorenses, elevo a Deus as minhas humildes preces pelos vivos e pelos mortos e presto a minha homenagem aos que tombaram em Santa Cruz", evocou.
Na conversa com o público em Estarreja, D. Ximenes Belo deu conta de que, dias antes, foi grande a afluência de jovens às confissões, enchendo as igrejas, numa preparação espiritual para aquele acto heróico.
"Muitos jovens foram comungar. Dois ou três dias antes do massacre as igrejas estavam cheias de jovens e muitos foram-se confessar e ficamos admirados com tanta afluência. Viemos a saber mais tarde que tinham combinado entre si confessar-se porque já sabiam que iam morrer e mais valia estarem preparados para morrer defendendo a pátria, do que morrer em pecado mortal", relatou.
Revivendo o dia 12 de Novembro de 1991, D. Ximenes Belo admitiu que inicialmente fechou a porta aos jovens que vinham fugidos de Santa Cruz mas que, perante a suplica destes, lhes franqueou a porta.
"Vi chegar grupos de jovens em direcção à minha casa e ao princípio mandei fechar a porta mas eles gritavam que estavam feridos e a morrer. Mandei abrir a porta e eram 150 rapazes e raparigas que tinham vindo de Santa Cruz.
Eu próprio vi que outros jovens foram interceptados pelas tropas indonésias que já tinham cercado a minha casa e foram mortos e presos ali na estrada.
Os indonésios trataram de recolher imediatamente os corpos. Manuel Carrascalão viu-os a carregar 50 corpos", contou.
O arcebispo resignatário de Dilí explicou que depois se dirigiu ao cemitério e viu "um grande grupo de jovens, despidos da cinta para cima e com as mãos à cabeça, preparados para serem metidos nos camiões militares".
"Vim a saber depois que alguns foram atados de pernas para o ar e soqueados como se fossem sacos de boxe e alguns não resistiram", disse.
Na noite de 12 de Novembro, segundo D. Xímenes Belo, a cidade ficou sem luz e foram praticados mais assassínios no hospital: "Havia feridos graves que foram levados para a casa mortuária onde, com grandes pedregulhos lhes esmagavam a cabeça".
Nessa noite, um enfermeiro do hopital que era cunhado de um seminarista telefonou e deu conta de que já tinha lavado 70 corpos de jovens mortos.
No dia 14, em visita que fez ao hospital, verificou que as enfermarias estavam todas cheias de jovens e adolescentes, muitos estavam totalmente irreconhecíveis devido às torturas. Alguns deles eram os que se tinham acolhido na sua casa e conclui que muitos foram mortos porque regressou ao hospital no dia seguinte e o número tinha reduzido.
A Indonésia nomeou uma comissão de inquérito cujos resultados não foram credíveis e que apontou para um total de apenas 19 mortos e 90 feridos, concluindo que não era um massacre, mas um incidente.
Apesar da pressão internacional para que a comissão revelasse o número certo, corrigiu para 50 mortos e 90 feridos.
No processo de descolonização de Timor-Leste, segundo o Nobel da Paz, todos erraram: "Errou Portugal porque abandonou, errou a Indonésia porque invadiu e erraram os timorenses porque não se souberam unir", concluiu.
MSO
Lusa/Fim

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Partido de oposição ameaça sair do Parlamento timorense

10-11-2008
Lisboa, 10 nov (Lusa) - A Frente Revolucionária do Timor Leste Independente (Fretilin) ameaçou abandonar o Parlamento timorense até o final do ano, acusando os deputados da maioria parlamentar de cumplicidade com o governo local e de boicote às iniciativas da oposição."O Parlamento tornou-se um instrumento do governo, não dando oportunidade à oposição para questionar certos assuntos de interesse nacional, como aconteceu na discussão do Orçamento Geral do Estado deste ano", disse à Agência Lusa o presidente da Fretilin, Francisco Guterres Lu'Olo.Lu'Olo acusou os deputados da Aliança da Maioria Parlamentar (AMP), liderada pelo Congresso Nacional da Reconstrução de Timor Leste (CNRT), do premiê Xanana Gusmão, de "serem cúmplices do governo", o que tem impedido que o Parlamento exerça as suas funções de órgão legislativo e de fiscalização do executivo."Uma maioria pode suportar o governo, mas suportar o governo não é fazer leis contra a Constituição, não é tornar-se cúmplice de um governo que atua fora das leis. Se não corrigirem essas situações vamos abandonar o Parlamento", disse.A Fretilin, que venceu as eleições de 2007 sem maioria, detém 21 dos 65 assentos na Parlamento Nacional de Timor Leste e não reconhece a legitimidade do Executivo liderado por Xanana Gusmão."Se continuar assim, a decisão pode ser amanhã, pode ser depois de amanhã, pode ser daqui a um mês, antes do fim deste ano", acrescentou, se recusando a adiantar uma data precisa.

Mobilização


A decisão foi tomada no sábado, durante uma reunião do comitê central da Frente Revolucionária do Timor Leste Independente (Fretilin), em que também ficou decidida a realização da "Marcha da Paz"."Vamos mobilizar as massas, os militantes da Fretilin para descerem algum dia", disse Lu'Olo, explicando que a data da passeata depende da conclusão do "reajustamento estrutural" das bases do partido.O mandato de cinco anos dos responsáveis eleitos para as estruturas locais terminou e a Fretilin está no meio do processo de eleição dos novos dirigentes em 13 distritos, 65 subdistritos e mais de 400 aldeias.Até agora, foram eleitos 40% dos dirigentes locais e, segundo o presidente da Fretilin, só quando ficar concluído todo o processo é que será definida a data da marcha.Segundo Lu'Olo, as decisões que saíram da reunião de sábado são a "resposta política" do partido à atual situação governamental."As coisas não estão a andar bem. O governo liderado por essa dita AMP não fez praticamente nada e o que se está a verificar é que há má governança, há corrupção, o conluio e o nepotismo pululam nesse governo. Por isso, tomamos esta decisão como uma resposta política", concluiu Lu'Olo.

sábado, 8 de novembro de 2008

President Jose Ramos Horta asked Obama, Lift Cuba Blockade

Dili, Nov 7 (Prensa Latina) In a message addressed to US President Elect Barack Obama Timor Leste President Jose Ramos Horta asked him to lift the blockade of Cuba.
In an official note published on Friday, Ramos-Horta said he expected a change in Washington's foreign policy and that the new administration should immediately lift the trade blockade and sanctions against Cuba.
The economic blockade of the most powerful nation against the small nation is immoral and politically senseless, affirmed Timor Leste's head of State.
He also emphasized that Obama's election means a change of direction in US history, a victory of liberty and justice that shows that the US society has left discrimination and exclusion in the past.
He also said that the president elect would have to face urgently the current financial crisis caused by the incompetence and irresponsibility of that country's executive leaders, and he would have to fight the increasing extreme poverty in emerging nations.
iom abo sus
PL-14

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Ramos Horta felicitou Barack Obama

O Presidente de Timor-Leste, Ramos Horta, felicitou Barack Obama pela sua vitória nas eleições presidenciais norte-americanas e salientou a importância da acção da sua administração para uma futura resolução do conflito israelo-palestiniano.
Ramos Horta acredita que uma nova administração chefiada por Barack Obama possa resolver questões como a da Palestina, «que é a mais urgente e gritante do ponto de vista moral, em conjunto com a questão da Birmânia».
Para o Presidente de Timor-Leste, a prioridade de Barack Obama deve ser a actual crise financeira que afecta os Estados Unidos. «(A prioridade) deve ser pôr ordem no escândalo financeiro de Wall Street», sublinhou.
«É uma agenda enorme para um homem só, por isso todos nós devemos ter paciência e dar-lhe tempo», concluiu Ramos Horta.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Tumour boy takes first steps


Tuesday, 04 November 2008
East Timorese toddler Alex Gonzaga has taken his first steps in Wellington Hospital
after a life-saving operation to remove a massive tumour from his stomach.

The 14-month-old, holding his mother's hands and sporting tiny squeaky jandals, walked for the first time yesterday thanks to a 10-member medical team who volunteered their time and skills to remove the 3.3-kilogram benign tumour last month.
Alex and his mother, Elisa Da Conceicao, were flown to Wellington Hospital about three weeks ago for the operation. The Dominion Post revealed details of Alex's surgery, and since then his story has spread around the world. Shy, but smiling, Mrs De Conceicao said yesterday that her son's improvement since the operation was just wonderful. Before the operation Alex was restricted to moving and eating on all fours because of the size and weight of the tumour.
"He is completely different, more happy and mobile," she said through an interpreter.
She had been impressed by the doctors. Alex would not have received the same treatment in his homeland.
Alex's tumour was spotted by a doctor in East Timor and scanned on a visiting medical ship. Alex was transferred to the Rotary Oceania Medical Aid for Children (Romac) programme, which organises medical and surgical experts as well as immigration visas and interpreters.
Paediatric surgeon Brendon Bowkett, who led the surgical team, said it was great to see Alex smiling, playing with toys and getting around "like a normal kid". "His recovery has been dramatic and quick - faster than we expected," Mr Bowkett said.
Ward 19 team leader Trish Lee said it had been heart-warming watching Alex's progress. "It has been really great seeing him go from a quiet, almost immobile little boy to a happy, active, mischievous toddler taking his first steps," Mrs Lee said.
Alex and his mother were transferred to Ronald McDonald House yesterday while Rotary organises tickets for them to return home.
Once Alex is back in his village and reunited with his four siblings, the Alola Foundation will provide nutritional support for him during the remainder of his recuperation.

Embaixador dos EUA "optimista" sobre estabilidade e segurança de Timor

2008-11-03
O embaixador dos Estados Unidos da América (EUA) em Díli afirmou, em entrevista à Agência Lusa, estar "optimista" em relação à estabilidade de Timor-Leste.
Hans Klemm explicou que a situação de segurança tem melhorado e que os "sinais" mais importantes são os da continuação da estabilidade."Espero não estar a ser ingénuo, mas os sinais importantes indicam a continuação de uma boa situação de segurança, graças à eficácia do Governo", declarou o diplomata norte-americano, na entrevista à Lusa.Hans Klemm afirmou não ignorar os elementos de tensão, incluindo a troca de acusações entre Governo e oposição e o risco de conflitos potenciais decorrentes do regresso dos deslocados internos.Sobre a inflamação das declarações entre o primeiro-ministro, Xanana Gusmão, e o secretário-geral da Fretilin, Mari Alkatiri, o diplomata desvaloriza a tensão das últimas semanas, considerando que "faz parte do jogo democrático em qualquer país normal".O embaixador dos EUA salientou também que há várias indicações da melhoria da situação de segurança, incluindo o anúncio da retirada de cem efectivos australianos das Forças de Estabilização Internacionais (ISF), em Janeiro de 2009.Hans Klemm recordou que o alerta de segurança para os cidadãos dos EUA relativo a Timor-Leste, que vigorava desde a crise de 2006, foi levantado há um mês.O diplomata norte-americano, que teve um papel central na organização de um simpósio sobre o sector de segurança de Timor-Leste, em Setembro, realizado no Havai, elogiou a forma como a liderança timorense "estabeleceu um consenso do que deve ser a estratégia de segurança nacional".
Lusa

domingo, 2 de novembro de 2008

Grupos de artes marciais constroem a paz na Casa da Juventude

2008-11-02 *** Pedro Rosa Mendes, da Agência Lusa ***
Díli, 02 Nov (Lusa) - Os passos de Osório Léqui, Portágio e "Sakaw", líderes de grupos rivais de artes marciais em Timor-Leste, nunca se cruzam. Excepto para lutar.
Esta semana, porém, lançaram juntos uma batalha diferente, pela paz da juventude timorense.
"A guerra acabou", explicou na sexta-feira Osório Léqui, um dos líderes do grupo Colimau 2000, à Agência Lusa, em Díli.


Ao lado de Osório, em ambiente de velha camaradagem, estava Portágio, o presidente do grupo PSHT, e "Sakaw", nome de guerra do líder do grupo 7-7 no bairro de Audian, no coração de Díli.
Os três ex-inimigos juntaram-se a outros líderes de grupos rivais na abertura oficial da Uma Juventude ("Casa da Juventude" em tétum), uma organização não-governamental timorense com a ambição de reconciliar os jovens e transformá-los em agentes de paz.
Na entrada da Uma Juventude, marcando fisicamente o desconforto com uma reconciliação em que acabou de entrar, estava Nuno Soares, antigo líder do grupo Korka, associado à Fretilin e grande rival do PSHT, que foi difundido em Timor-Leste durante a ocupação indonésia.
Mais tarde apareceu Oan Kiak, ex-combatente que, explica Osório, "representa o grupo 20-20, que existiu apenas durante a crise de 2006 e que recebeu armas" das Falintil-Forças de Defesa de Timor-Leste (F-FDTL).
Osório, Portágio, "Sakaw", Nuno e Kiak são rostos de grupos cuja rivalidade produziu alguns dos incidentes mais graves durante e depois da crise de 2006.
"O que chamamos guerra foi uma crise civil que transbordou dos militares e implicou os grupos de artes marciais e os jovens, que aceitaram as consequências da divisão nos militares. Em termos de actividade e de conflito, podemos designar isso por uma guerra civil entre timorenses", afirma Osório Léqui.
"Agora, a situação é outra e as pessoas precisam de mudar a sua vida", acrescenta Osório nas traseiras da sede da Uma Juventude.
"Precisamos de fazer algo mais prático para a nossa vida do que lutar. O processo de violência no passado acumulou-se em nós para nos fazer trabalhar juntos com mais força de agora em diante", prossegue Osório Léqui com um sorriso.
Osório nota que "há duas histórias que têm sido desenvolvidas neste país" sobre a violência dos jovens.
"Talvez de fora olhem para nós e vejam apenas os delinquentes e os criminosos. Mas nós tentamos ver na direcção oposta: estes são os guardiões do futuro da juventude timorense. Não se pode apenas dizer que todos são culpados e que não há nenhuma esperança no seu futuro", afirma Osório.
"Nós somos as vítimas de um conflito pós-independência. Temos um grande potencial para ser manipulados politicamente", admite o líder do Colimau 2000, acrescentando que os relatos de aproveitamento político dos grupos de jovens, em 2006 e 2007, "são 75 por cento verdade".
Neste momento, no entanto, essa exploração dos grupos pelos partidos "parou por razões que têm a ver com ambos os lados". É preciso oferecer aos jovens motivos para não cederem às pressões e à instrumentalização, sublinha o líder do Colimau 2000.
Osório chama a atenção para o facto de "a maior parte dos peticionários" das Forças Armadas em 2006 ser membros do Colimau 2000, "tal como o próprio Gastão Salsinha", e ter sido essa a razão para seguirem a contestação do ex-tenente nas casernas.
"Há uma solidariedade de cada membro na organização", explica Osório.
"É preciso evitar chamar criminosos aos elementos dos gangues. Se dizem algo de mim não é dito apenas de um indivíduo mas de todo o grupo", explica Osório sobre o tipo de fidelidade que liga os membros de cada estrutura.
Osório explica também que grupos como o Colimau 2000, PSHT, 7-7 ou Korka são transversais à sociedade e que é arriscado catalogá-los como grupos de criminosos.
"Temos Colimau 2000 nas F-FDTL e na PNTL. É um pacote de pessoas colocadas em posições e localizações estratégicas e isto foi integrado na cultura timorense", diz.
"Tem que se identificar e distinguir as organizações culturais e desportivas das que são criminosas", declarou à Lusa o fundador da Uma Juventude, José Sousa-Santos, até há poucos meses assessor do Presidente da República, José Ramos-Horta.
"Simplesmente, não podemos dar-nos ao luxo de falhar desta vez", explica o ex-assessor presidencial para a juventude.
"Estes líderes representam cerca de 250 mil jovens timorenses. Vamos apoiá-los ou deixá-los voltar às ruas?", pergunta José Sousa-Santos.
"O próximo conflito é um bom emprego, uma boa vida. É esse o desafio para nós e para a sociedade", concorda Osório Léqui, sob o olhar de Portágio e de "Sakaw".
Lusa/fim

sábado, 1 de novembro de 2008

Remembering the quiet heroes

Andra Jackson
November 1, 2008

Jill Jolliffe knows that often in wars it is the heroes who are remembered while the suffering of ordinary people goes unnoted. But the Australian journalist, who has spent more than 25 years reporting on the East Timorese independence struggle, has found a way of ensuring that the memory of these silent sacrifices will be preserved.
In 1983, Jolliffe landed an international scoop when a confidential Indonesian military manual made its way into her hands. It had been seized by Fretilin guerilla fighters during a raid on Indonesian military barracks, and smuggled out of East Timor.
It was a counter-insurgency manual with a section of advice on conduct to be followed when administering torture, to avoid later identification. It included admonishments such as: "Do not take pictures of people when they are naked, and make sure nobody sees you," she recounts.
Jolliffe, a longtime East Timor watcher, was working as a freelance journalist in Portugal, having been evacuated by the International Red Cross from East Timor in December 1975 shortly before Indonesia invaded in response to East Timor's declaration of independence from Portugal.
The manual was considered so significant that The Age, one of the newspapers Jolliffe was freelancing for, agreed to pay her to go to London and help Amnesty International translate the instructions from Indonesian Bahasa. It was assessed by an American Indonesian expert, after which Amnesty issued a statement condemning Indonesia's use of torture.
Now, 25 years later (and six years after East Timor finally became a sovereign state in 2002), Darwin-based Jolliffe is following up that story, working with the victims of Indonesian Government-sanctioned torture. She has established the Dili-based Living Memory Project, recording the experiences of East Timor's forgotten casualties of its long war of independence — its prisoners.
On return visits to East Timor in 1999 and 2001, she met many of the ex-prisoners whose names were so familiar from her own reports on their ordeals. Some had been imprisoned in the 1970s, others after the 1991 Santa Cruz massacre in which Indonesian troops opened fire on pro-independence demonstrators in a cemetery.
The idea for the Living Memory Project took shape as she chatted with them. "One of the problems is that these people suffer from a lack of recognition, if nothing else," says Jolliffe, who speaks in measured terms. "Many suffer from broken bones and long-standing medical problems but psychologically also, they have felt very excluded from the independence process, and not recognised. They are mostly civilians, held by the Indonesians. One-third of them were women, some with children."
While many of the former independence fighters have been accorded hero status, she says, the abuse of countless civilian prisoners has gone unrecognised. "Some of these women have had children from rape and they are stigmatised in the community," Jolliffe says. They are even taunted as collaborators. The project aims to set the record straight and ensure "that people won't forget what happened, that their suffering would be remembered, and that it wouldn't be in vain".
Jolliffe suggested preserving their experiences on video, but unlike Steven Spielberg's Shoah Foundation's recordings with Holocaust victims, these are not "talking heads". Instead, the approach of the Living Memory Project — set up in 2005 — illustrates the testimony in a style closer to documentary.
Joao Da Costa is filmed outside the former prison, now a four-star hotel, where he was detained in the '70s. He tells of lying on the floor, handcuffed to a woman, both of them beaten and naked.
In compelling footage, he describes how he was burnt on the hands and face with clove cigarettes and how table legs would be placed on his toes, and four Indonesian interrogators would then lean on the chair. He recalls those beaten to death.
In Genoveva da Costa Martins' interview, the pain of loss is still evident as she describes how her husband, nationalist poet Francisco Borja da Costa, was thrown into the sea by the advancing Indonesian army in December 1975.
The project employs professional international freelance film-makers but plans to train locals. Sydney-sider Nicola Daley was chosen because "she had a soft touch and could film women in a sensitive way". An all-female crew is used for filming women survivors of torture, with an assistant on hand to offer counselling if needed.
The five-person project team, some of them ex-prisoners, work from a small overcrowded office in Dili on a shoestring budget. So far they have conducted 50 interviews and assembled an archive of 200 photographs, some taken clandestinely in prison. Backers include the New Zealand Government and the Northern Illinois University. Recently Melbourne's Moreland Community Health Service pledged money for follow-up medical help for ex-prisoners. Jolliffe hopes to raise sufficient funds for a full-time archive where the public can come in at any time to view the films, and where ex-prisoners can meet socially.
The project has also attracted some World Bank funding to stage exhibitions to help bridge the political and ethnic divisions that erupted between the eastern and western regions of East Timor in 2006 amid rising unemployment, and disaffection among the armed forces. Recently, a former prisoner from the western region of East Timor gave a talk to a youth group in East Timor. The World Bank wants similar encounters extended into schools as part of East Timor's healing process.
Meanwhile, the indefatigable Jolliffe has five books behind her and is in the midst of a PhD in creative writing at Flinders University. She is revising her fifth book, Cover-up, about the deaths of the five Australian journalists — the Balibo Five — killed by Indonesian troops two months before the December 1975 invasion. The update will include a report by Deputy NSW Coroner Dorelle Pinch recommending the indictment of General Yunus Yosfiah and Cristoforus da Silva for complicity in the killings.
JOLLIFFE has also enlarged the depiction of journalist Roger East, who died later, in keeping with his central role in a film version of her book, which stars Anthony La Paglia as East. The film script was written by David Williamson and Robert Connolly. It premiers at the Melbourne International Film Festival next July.
Jolliffe is also writing a book, Finding Santana, about her solo journey to the East Timorese mountains in 1994 to interview the East Timorese commander, Konis Santana. She travelled down the Indonesian archipelago by bus and boat to avoid the Indonesian authorities — another front-page story. She has received an Eric Dark Fellowship to stay at the Varuna writers centre, in the Blue Mountains of NSW, to work on it.
Reflecting on the four decades she has devoted to covering East Timor, she says: "I think there was a lot of unfinished business there from my first period as a novelist- journalist. My translator was executed on Dili wharf also (in 1975) and I haven't forgotten that.
"The story of East Timor is one that finds its way into people's psyches and it doesn't go way altogether."
Andra Jackson is a staff writer.