quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Imigrantes do Sri Lanka esperam por asilo no Timor Leste

29-10-2008
Díli, 29 out (Lusa) - Mais de dez imigrantes da etnia tamil do Sri Lanka esperam em Díli, capital Timor Leste, a concessão do estatuto de refugiado, depois de terem sido detidos na costa sul pelas autoridades timorenses.



O grupo foi surpreendido há duas semanas pela polícia em Betano, perto de Same, região sudoeste do país, quando tentava embarcar ilegalmente para a Austrália através do mar de Timor. Os imigrantes foram interrogados em Díli e colocados em liberdade há uma semana."Chegamos de noite e o nosso contato, um indonésio de nome Frankie, mandou-nos esperar num quarto. De manhã embarcaríamos", contou à Agência Lusa um dos imigrantes, Justin Wilsonraj."De repente, a polícia entrou e nos prendeu. Nem chegamos a ver o barco nem o mar", disse.Contudo, algo correu mal, de novo, para os tamil. Frankie teria sido o último elo numa longa cadeia que os levou até a ilha. Frankie foi um dos quatro indonésios detidos pela polícia na mesma operação em Betano. É casado com uma timorense e reside em Díli. Dois dos imigrantes tamil detidos em Betano já foram repatriados, depois de alguns dias de detenção.Os outros esperam uma resposta das autoridades sobre a concessão do estatuto de refugiado. Há um alfaiate, um fotógrafo de casamentos, três condutores, um pasteleiro e jovens com alguns estudos."Não podemos voltar ao nosso país porque lá matam-nos devido à situação política", explica o mais velho do grupo, Alex, de 53 anos, em função do conflito entre o governo cingalês e os separatistas do LTTE (Tigres de Libertação do Eelam Tamil), na península de Jaffna, no norte de Sri Lanka."Aqui também não é bom. Não há emprego e os timorenses são loucos", diz o imigrante."Aqui, por tudo e por nada, atiram pedras e deitam fogo às casas. Nós no Sri Lanka só usamos tiros", explica o tamil com um sorriso.Nenhum destes homens se conhecia antes de Timor Leste. Foram chegando a Díli entre 2002 e julho deste ano, após pagarem entre dois a três mil euros (R$ 8,3 mil) de "passagem", dinheiro conseguido, por vezes, vendendo a casa da família, como o aconteceu com o jovem Paramalingham.Vários dos imigrantes tamil entrevistados pela Agência Lusa resumem as primeiras impressões de Timor Leste, quando, no meio da noite, o ônibus que os transportava parou: a constatação de que não havia ninguém à espera e a porta fechada de uma empresa chamada Paraíso, ao lado da agência de viagens que faz a linha de transporte.Com Alex foi pior ainda. "O agente que me pôs no ônibus em Kupang me disse que a última parada era a Austrália".Todo o grupo ignorava também que o mar de Timor tem má fama. Em Tétum, a costa norte, a de Díli, é conhecida por "Mar Mulher", mais manso. A costa sul, a de Betano, é "Mar Homem", mais bravo."Sim, Tasmânia", diz Alex de súbito entusiasmado, confundindo o sotaque timorense com a geografia do seu sonho australiano."O Frankie nos disse que não haveria problema. Os australianos não iam disparar sobre nós", diz Justin sobre o sonho desfeito na praia de Betano.Tiveram, afinal, que enfrentar a ira da população timorense, depois de a imprensa ter falado neles como "perigosos terroristas" do LTTE. Os poucos pertences do grupo foram destruídos pela população."É muito terrível", conclui Justin no chão da casa sem mobília, em que estão alojados. "Não podemos ficar aqui".

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