08 de Outubro de 2008, 06:54
Valongo, 08 Out (Lusa) - O bispo D. Ximenes Belo defendeu hoje, em Valongo, que Timor-Leste precisa de "um verdadeiro diálogo" para resolver os seus problemas e aconselhou os dirigentes políticos locais a "trabalhar mais pelo povo".
"Pessoalmente tenho esperança que as coisas se resolvam com diálogo e em paz", disse Ximenes Belo à Agência Lusa, no final da conferência que proferiu na Biblioteca Municipal do Valongo, intitulada Ecos do Oriente e centrada na "situação da língua portuguesa" no antigo território português.
O prelado falou da Marcha da Paz, convocada pela Fretilin (Frente Revolucionária do Timor Leste Independente), o maior partido da oposição, para data ainda não especificada.
"Creio que o Governo e o povo timorense estão atentos", salientou, sem se alongar em grandes considerações.
O primeiro-ministro timorense é que já tomou posição sobre a marcha, tendo dito terça-feira, em Díli, que não vai permitir que surja "uma nova onda de instabilidade".
"Vamos permitir que haja manifestação porque é um direito constitucional, mas estamos preocupados com o risco de uma nova onda de instabilidade", frisou Xanana Gusmão.
O presidente timorense também já se pronunciou sobre a iniciativa anunciada pela Fretilin, a força política que venceu as eleições legislativas de 30 de Junho de 2007, sem maioria absoluta, tendo, no entanto, ficado fora do governo entretanto constituído.
"Se a Marcha da Paz é para falar de novo da alegada inconstitucionalidade do 4º Governo, é grave", comentou José Ramos Horta.
"Os problemas devem ser encarados com cabeça fria", defende D. Ximenes Belo.
"Mas por outro lado, com cabeça fria também podemos e devemos pensar que se as manifestações trazem problemas é melhor dialogar", afirmou.
Ximenes Belo é da opinião que "vai levar tempo" até haver paz na sociedade timorense.
"Há muito trauma e é preciso muita educação para que haja reconciliação, diálogo, paz e respeito pelos direitos humanos e por isso vai levar tempo", sustentou, insistindo sempre na necessidade de os dirigentes políticos locais dialogarem entre si.
Sobre a língua portuguesa em Timor Leste, tema de que se ocupou na conferência que deu em Valongo, o bispo lançou alguns avisos.
"Hoje, a implementação da língua portuguesa depara-se com muitos obstáculos, porque há sectores da sociedade timorense que são contra o seu uso", destacou.
O português, uma das línguas oficiais do país, juntamente com o tétum, compete não só com esta mas também com o indonésio e o inglês, sendo estas as "línguas de trabalho", como explicou o homem que chefiou a igreja católica timorense entre 1983 e 2002 e que, em conjunto com Ramos Horta, recebeu o Prémio Nobel da Paz em 1996.
Ximenes Belo diz que "há insuficiência de professores, de livros, de rádios" e de outros meios de difusão da língua portuguesa.
"Exige-se maior empenhamento dos governantes de lá, de Timor-Leste" na divulgação e promoção da língua portuguesa, defendeu também, especificando que o indonésio ainda prevalece porque "tem uma estrutura mais fácil do que o português".
A boa notícia é que "o governo timorense actual quer que até 2.012 todos os professores usem a língua portuguesa" nas suas escolas.
AYM.
Lusa/Fim
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