segunda-feira, 5 de março de 2007

Nova fuga de Reinado ameaça incendiar Díli

O major Alfredo Reinado, que desde há uma semana estava cercado pelas forças internacionais em Same, a 80 quilómetros de Díli, conseguiu escapar ao assalto que as forças especiais australianas lançaram na noite de sábado para ontem, encontrando-se, desde então, em parte incerta. Sem que até ao momento se tenha percebido de como é que o ex--comandante da Polícia Militar (PM) timorense conseguiu iludir o cerco que lhe foi montado, nem as razões que têm levado Camberra a prescindir da colaboração das Falintil - Forças de Defesa de Timor-Leste (F-FDTL), sabendo-se que ninguém conhece melhor as montanhas do país do que os ex-guerrilheiros que ali combateram a Indonésia.

Seja como for, o que se sabe já é que a operação australiana começou por volta das 02.00, prolongando-se por hora e meia, tendo mobilizado vários helicópteros de combate que dispararam contra a casa do antigo administrador onde Reinado era suposto estar, enquanto as tropas no terreno lançavam gás lacrimogéneo contra os sitiados e avançavam pela colina, protegidos por blindados.

A avaliar pelas declarações do comandante das forças australianas em Timor-Leste, a operação, da qual terão resultado quatro mortos e dois feridos timorenses, "foi um sucesso".

O problema só surge quando o brigadeiro-general Mal Rerden não consegue explicar como é que Reinado escapou, onde é que ele se encontra, nem o número de homens que o acompanham.

Fontes desencontradas referem que o major Alfredo Reinado se encontra em fuga com apenas sete pessoas, enquanto outras admitem que ele dividiu os seus efectivos em Same em três grupos, fazendo avançar dois contra os australianos, enquanto escapava para as montanhas, protegido pela vegetação em torno da casa do antigo administrador.

Sendo certo que o fugitivo já não representa, neste momento, uma ameaça militar para as forças internacionais estacionadas em Timor- -Leste, como a Austrália afiança, o facto é que este major parece constituir um perigo político ainda maior. Sobretudo, numa altura em que o país caminha para eleições, sem que a violência dê mostras de abrandar na sua capital. Como se constata pela violência que assolou Díli na madrugada de ontem e que começou quase em simultâneo com o ataque desferido em Same. Revelando uma certa concertação entre Alfredo Reinado e alguns grupos de jovens.

Como o Presidente Xanana Gusmão evidenciou a meio do dia de ontem, quando se dirigiu aos jovens timorenses, recordando-lhes o seu próprio percurso e o de Reinado, para lhes perguntar, em tétum, quem é que era o herói. Um exercício de ironia razoavelmente duvidoso, dado que a maioria dos jovens timorenses já pouco se recordará do guerrilheiro Xanana, mas que lhe serviu para garantir que a operação de captura de Reinado vai continuar.

Permitindo-lhe, adicionalmente, um ensaio para o controlo das ondas de choque que poderão ocorrer em Díli, caso Reinado venha a ser morto nas próximas horas ou dias. "O Estado", avisou, "não volta atrás e o caminho é só um: entregarem as armas e entregarem-se todos".

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