segunda-feira, 26 de março de 2007

Timor:Reinado não se entrega e quer «continuar a respirar»

O major Reinado, num contacto telefónico estabelecido hoje a partir do local onde se encontra escondido o deputado Leandro Isaac, no sul do país, disse à agência Lusa que não se vai entregar e que quer «continuar a respirar».

Alfredo Reinado, o militar fugido à Justiça, evadido da cadeia de Díli em Agosto de 2006 e que se encontra na posse ilegal de armamento militar, recusou dizer onde se encontra mas afirmou que está em «permanente contacto com Leandro Isaac».

O membro do Parlamento disse à Lusa, no local onde se encontra escondido, que vai resignar ao cargo de deputado e acrescentou que o major Reinado formou um novo grupo.

«Tatoros, que quer dizer formiga preta. Formiga preta, porque incómoda», explicou.

Leandro Isaac, 53 anos, encontrava-se com o grupo de Alfredo Reinado quando as tropas australianas cercaram a vila de Same no dia 27 de Fevereiro.

«Os australianos usaram todos os meios e cercaram a vila de Same, inclusivamente fecharam a água potável e houve confrontos. A população respondeu e os helicópteros assaltaram o posto de Same. Eu estava com a juventude. O assalto foi nesse domingo de madrugada, eu estava com a juventude e a primeira coisa que os australianos fizeram foi perguntar por mim», disse Leandro Isaac quando se referiu ao cerco de 27 de Fevereiro.

Desde esse dia, Leandro Isaac diz que vive escondido no interior e que conta com o apoio das populações da região de Same, de onde é natural.

«A vida no mato é a vida no mato, é diferente da vida na cidade. Como folhas e raízes, tudo o que tiver para resistir», acrescentou Leandro Isaac.

Leandro Isaac repetiu igualmente críticas sobre a presença, em Timor-Leste, dos militares australianos das Forças Internacionais de Estabilização.

«A força australiana, que dizem internacional, está aqui a convite do Governo, do Estado de Timor, está aqui através de um acordo que eu como deputado desconheço», afirmou.

O deputado não foi até ao momento acusado formalmente pela Procuradoria Geral da República, apesar da Comissão Especial Independente de Inquérito para Timor-Leste estabelecer «algum envolvimento no acontecimento» ocorrido no dia 24 de Maio de 2006 na casa do brigadeiro-general Taur Matan Ruak, em Díli, em que morreu um membro da Polícia Nacional de Timor-Leste (PNTL) e ficaram feridos dois soldados das Forças de Defesa de Timor-Leste (FDTL).

Segundo disse, apenas tentou defender-se, que não matou ou feriu ninguém, e que manteve a arma que tirou a um polícia «apenas» durante dois dias.

«Foi apenas por 48 horas, quando eles dispararam sobre nós. Na altura estava um polícia ao lado que não utilizava a arma como devia ser e eu retirei-lhe a arma e usei-a. Mas quem é que eu matei? Só se foi uma bala perdida», disse.

Leandro Isaac, 53 anos, nasceu em Same, foi soldado do Exército Português e aderiu à União Democrática Timorense em Agosto de 1975. Foi membro do parlamento da então 27ª província indonésia. Preso em 1981 e 1992 por actividades ligadas à rede clandestina foi nomeado coordenador do Concelho Nacional da Resistência Timorense em 1999.

Diário Digital / Lusa

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