Dili, 5 mai (Lusa) - O governo do Timor Leste, chefiado pelo primeiro-ministro Xanana Gusmão, pode perder a maioria no Parlamento após a assinatura de uma plataforma política entre um partido da base governista, a Associação Social Democrata Timorense (ASDT), e o maior partido da oposição, a Fretilin.
Em comunicado distribuído nesta segunda, a Fretilin anuncia que os dois partidos decidiram fundar "uma sólida coligação" para formar "o próximo governo constitucional do Timor Leste".
O comunicado da Fretilin acrescenta que a principal motivação deste acordo é o "nepotismo e a corrupção" do governo chefiado por Xanana Gusmão, que tomou posse em agosto de 2007. Na ocasião, a Fretilin foi o partido mais votado, mas a Aliança para Maioria Parlamentar (AMP) conseguiu reunir um número maior de cadeiras no Parlamento.
A ASDT tem uma coligação com o Partido Social Democrata (PSD), liderado por Mário Viegas Carrascalão, que formam a AMP ao lado do partido do premiê, o Congresso Nacional de Reconstrução do Timor Leste (CNRT), e o Partido Democrático (PD), do presidente do Parlamento, Fernando La Sama de Araújo.
Aritmética
O anúncio do acordo, assinado pelo líder da ASDT, Francisco Xavier do Amaral, e pelo presidente da Fretilin, Francisco Guterres Lu Olo, ativou de imediato a aritmética sobre o número de deputados de cada partido e as possíveis conseqüências do novo arranjo.
Atualmente, a aliança governista com o apoio de 37 dos 65 deputados do Parlamento timorense, "incluindo alguns que se abstêm normalmente", indicou Mário Viegas Carrascalão à Lusa. Cinco dos deputados da aliança são da ASDT. A oposição conta com o apoio de 33 deputados, sendo a base de apoio mais segura formada pelos 21 deputados da Fretilin.
"Isto vai causar problemas na estabilidade política", prevê o líder do PSD, Mário Viegas Carrascalão.
O acordo entre a Fretilin e a ASDT ameaça desequilibrar esta divisão de forças, explicou Carrascalão, "sobretudo se se confirmar a indicação de que três dos oito deputados do PD podem também se alinhar com a oposição no Parlamento".
"É uma situação muito arriscada" para a AMP e para o governo, afirmou o político, que garante que seu partido continuará com o governo.
"Se eu pertencesse ao partido majoritário dentro da AMP, pediria uma moção de confiança. Não se pode governar em cima de vidros. Temos que saber com o que contamos e se nós ainda merecemos a confiança da maioria ou não", declarou ainda o líder partidário.
Carrascalão lembrou que a decisão de que o governo timorense seria formado pela AMP, apesar da Fretilin ter obtido mais votos individualmente, foi do presidente José Ramos-Horta, que está, agora, diante de uma situação diferente.
"A AMP deixou de ser o partido majoritário. O argumento que o presidente tinha deixou de existir", explicou o líder do PSD.
Somos da AMP
O líder da ASDT, Francisco Xavier do Amaral, garantiu à Agência Lusa que seu partido continua na aliança governista.
"Nós ainda somos da AMP", declarou Xavier do Amaral, horas depois do comunicado de assinatura do acordo político com a Fretilin.
"Não vai acontecer nada. [...] É um acordo para fazer uma coligação, mas a coligação não está feita ainda", esclareceu o presidente da ASDT, que explicou que o acordo visa o bem-estar da população timorense.
"Não queremos a população gritando de fome pelas aldeias. Queremos uma economia desenvolvida e não admitimos que haja ministros andando de avião pelo mundo enquanto o povo está morrendo de fome cá dentro", acusou Francisco Xavier do Amaral.
Conflito interno
"Em termos de Parlamento, pode não haver problema se a bancada da ASDT não concordar com o acordo feito pela direção do partido", acredita o vice-presidente do Parlamento, Vicente Guterres. "Mas em termos de partido e em termos políticos, é uma situação difícil", considerou.
"Politicamente, o governo está ameaçado, mas em termos reais, a ASDT é membro da AMP e partilha dos mesmos princípios", respondeu o secretário-geral do CNRT, Dionísio Babo, quando questionado sobre o perigo que o acordo representa para o Executivo de Xanana Gusmão.
"É uma questão puramente de conflito interno à ASDT", acredita o dirigente.
Na manhã desta segunda-feira, os deputados da ASDT não compareceram em plenário. Segundo o presidente do PSD, Mário Viegas Carrascalão, "é por que a bancada da ASDT discorda da direção do partido". No entanto, João Correia, porta-voz da ASDT, afirmou à Lusa que "a ausência dos deputados apenas testemunha que o partido pretende sair da AMP".
Impasse nos Ministérios
No governo, a ASDT tem duas pastas, o Ministério do Turismo, Comércio e Indústria, sob responsabilidade de Gil Alves, e a Secretaria do Meio Ambiente, com Adílio de Jesus Lima.
O líder do partido pediu recentemente a substituição dos dois membros do governo da ASDT a Xanana Gusmão, "apresentando dois nomes alternativos e mais três nomes novos para outras pastas", afirmaram Mário Viegas Carrascalão e Dionísio Babo à Lusa.
"Soube por fora que foi a falta de resposta de Xanana Gusmão que motivou o acordo de Francisco Xavier do Amaral com a Fretilin", adiantou o líder do PSD.
"A confusão é grande", resumiu Carrascalão.
sexta-feira, 9 de maio de 2008
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