Internacional 2008-07-22 12:19
Há quase uma década que duas diásporas timorenses convivem em Timor ocidental: a dos que gritavam "independência ou morte" e a dos que mataram pela "integração ou morte".
Caetano Guterres, cônsul de Timor-Leste em Kupang, no Timor indonésio, consegue compreender ambas as comunidades, até porque os autonomistas "também têm o coração lá"."Uns diziam, em tétum, 'mate ga moris ukun racik han'. Outros respondiam, em indonésio, 'hidup atau mati untuk integrasi' ou 'autonomia'. Para os dois lados, era até à morte. Eu fui militar e sei como é", diz.Para o cônsul, fundador das Falintil, ex-guerrilheiro e ex-prisioneiro na Indonésia, "é preciso ver o elemento emocional dos irmãos que quiseram a integração"."Quando nós acreditamos numa causa, oferecemos tudo o que temos e lutamos com todos os meios. Em 1999, os timorenses que defenderam a autonomia já tinham provado o fruto de 24 anos de integração", acrescenta."Consideraram que o território sob integração era deles. Houve um referendo, sob influência internacional. Eles perderam e não aguentaram".Caetano Guterres, natural de Afeloicai, no sopé do Monte Matebian, no leste, é tio de Eurico Guterres, natural de Uatolari, também no distrito de Viqueque, e ex-comandante da milícia Aitarak de Díli em 1999.O cônsul dá o exemplo do seu sobrinho quando fala de "arrebatamento" e da "natureza humana" de defender aquilo que considera como seu."Os autonomistas tinham o direito político e o direito democrático de escolher a via que achavam melhor para o seu futuro", diz.Eurico Guterres, suspeito de responsabilidade directa no massacre da residência de Manuel Carrascalão em 17 de Abril de 1999, foi absolvido em Abril de 2008 pelo Supremo Tribunal indonésio e saiu em liberdade.O ex-comandante da Aitarak foi absolvido porque a formação da sua milícia em 1999 foi ordenada pelo então governador da província de Timor-Leste, ele próprio libertado em 2004 após decisão em recurso.Caetano Guterres, como cônsul e não como membro da resistência, tem que lidar diariamente com a diáspora dos que cometeram crimes em 1999 e com a diáspora dos que foram vítimas de crimes graves.Uns e outros convivem, afinal, nos mesmos campos e nas mesmas aldeias de Timor ocidental."Uns estão melhor, sobretudo os funcionários públicos. Outros estão pior, como os que sobrevivem de agricultura ou pequenos trabalhos. Pode vê-los pelos mercados a vender hortaliças ou a conduzir motorizadas", refere."Vêm ao meu encontro, choram, dizem-me que gostariam um dia de voltar a Timor-Leste, limpar as campas, plantar a sua várzea. Este é o povo miúdo", espalhado por dezenas de antigos campos e localidades.Cerca de 15 mil casas foram já entregues pela administração indonésia a cidadãos indonésios de origem timorense, "mas muitos têm medo de, recebendo a casa aqui, já nunca mais poder voltar para Timor-Leste", salienta Caetano Guterres.
Pedro Rosa Mendes, Lusa/AO online
quinta-feira, 24 de julho de 2008
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário