Dezasseis anos depois do massacre de Santa Cruz, em Díli, «faltam muitos mortos» por encontrar e nomear, afirmou à agência Lusa um dos sobreviventes.
«Continua por fazer a lista verdadeira das vítimas e dos sobreviventes» do massacre de 12 de Novembro de 1991, declarou à Lusa Gregório Saldanha, durante uma vigília na igreja de Motael, em Díli.
Gregório Saldanha é um dos coordenadores da Comissão Conjunta da ex-Juventude da Resistência Nacional (CCJRN), que pretende investigar os incidentes de há dezasseis anos, encontrar os corpos e homenagear as vítimas.
A vigília de hoje à noite recordou Sebastião Gomes, natural de Viqueque (leste) e estudante na capital, morto por milícias timorenses ao serviço do ocupante no dia 28 de Outubro de 1991, depois de se tentar refugiar na igreja com um grupo de colegas.
Duas semanas depois, uma manifestação pacífica de protesto contra a morte de Sebastião Gomes, de que Gregório Saldanha foi um dos organizadores, desencadeou a repressão por tropas indonésias no cemitério de Santa Cruz.
«Até hoje não há uma lista oficial«, explicou Gregório Saldanha diante da igreja de Motael.
«A Amnistia Internacional concedeu uma lista de 271 mortos mas não é um número correcto porque, na realidade, algumas pessoas esconderam-se após o 12 de Novembro e as famílias informaram que eles tinham morrido».
«Temos que obter uma lista verdadeira», acrescentou Gregório Saldanha, que, após a independência de Timor-Leste em 2002, foi deputado ao Parlamento pelo partido Fretilin.
As investigações de Gregório Saldanha apontam para a existência de «cento e tal mortos» no massacre.
«Há que examinar os verdadeiros participantes e é preciso distinguir os mortos que tombaram no cemitério e outros que morreram depois, por doença, traição dos inimigos, etc.», explicou Gregório Saldanha.
A CCJRN exigiu sexta-feira à Indonésia que revelasse os locais onde foram depositados os corpos das vítimas de Santa Cruz.
A versão mais repetida, a de que muitos corpos foram despejados em Tíbar, a oeste de Díli, «nunca foi investigada», recordou hoje Gregório Saldanha.
Dois especialistas internacionais de investigação forense chegaram a Díli em Abril de 2006 para trabalhar no caso, segundo Gregório Saldanha.
O encontro dos investigadores com José Ramos-Horta, então ministro dos Negócios Estrangeiros, não chegou a realizar-se porque foi nesse dia que uma manifestação de peticionários das Forças Armadas degenerou nos incidentes violentos que precipitaram a crise política e militar.
«Queremos que a Indonésia diga os locais dos mortos para que ao menos eles tenham o respeito que merecem, já que aos vivos não foi dada liberdade», sublinhou Gregório Saldanha.
Dia 28, domingo, a morte de Sebastião Gomes será recordada com uma missa em Motael, seguida de uma visita à sua campa no cemitério de Santa Cruz, às 14:00 (05:00 em Lisboa).
Diário Digital / Lusa
27-10-2007
domingo, 28 de outubro de 2007
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