Elementos da polícia timorense (PNTL) e das Nações Unidas (UNPOL) dispersaram a multidão que esperava a «descida» a Díli do líder da resistência Vicente Reis, morto em 1979.
«Os polícias vieram de início para proteger as pessoas mas depois chamaram a UNPol para impedir o programa», declarou à Agência Lusa o veterano Rio da Montanha, que anunciou o regresso de Vicente Reis para 27 de Outubro.
«Vicente Reis fugiu de novo para a montanha com a família, com medo», acrescentou Rio da Montanha, presidente da Caixa, a rede clandestina de mensageiros usada pela resistência sob a ocupação indonésia.
«O povo precisa de Vicente Reis e está a investigar o seu paradeiro», explicou o veterano à Lusa, numa colina sobranceira à ribeira de Comoro, em Beduco, periferia sul de Díli.
Rio da Montanha garantiu que Vicente Reis apareceu em Díli na manhã de 24 de Outubro.
«Esperamos encontrá-lo antes da Polícia», afirmou.
Vicente Reis, Comissário Político Nacional e segunda figura da resistência timorense junto do Presidente Nicolau Lobato desde Outubro de 1977, foi emboscado por tropas indonésias no sul do país, em Janeiro de 1979.
A família de Vicente Reis considera que o anúncio do seu regresso «é um embuste e uma conspiração política» e promete, se for preciso, mostrar as ossadas.
Vicente Reis Bie Ki Sa'he (o nome que tomou do seu avô) está enterrado numa montanha de Manufahi (sul) conhecida por Casa dos Morcegos, explicou à Lusa o seu irmão Marito Reis, secretário de Estado para os Antigos Combatentes da Libertação Nacional.
«A posição da família Reis é política, talvez provocada por pressões políticas», afirmou à Lusa o secretário-geral da Caixa, Norberto Pinto.
«Com todo o respeito pela família e pelo pai de Vicente Reis, que foi um grande combatente da resistência, nunca foi dito que ele tinha morrido», acrescentou.
«Houve alguém que disse à família que a campa era do Vicente Reis e a família aceitou, mas é isso que tem que ser investigado», disse Norberto Pinto.
Cerca de 200 pessoas juntaram-se, na véspera do anunciado regresso, na margem direita da ribeira de Comoro, em Manleuana, defronte de Beduco e da casa dos veteranos da Caixa.
O anúncio de que Vicente Reis estaria vivo foi acompanhado de imagens da campanha presidencial de Francisco Xavier do Amaral, fundador e líder da Associação Social Democrata Timorense (ASDT) e primeiro Presidente da República timorense, em 1975.
As imagens mostram o suposto Vicente Reis mas um homem chamado Manoel Escorial apareceu esta semana na televisão nacional reclamando a sua identidade e denunciando o «embuste».
«As duas famílias, de Vicente Reis e de Manoel Escorial, têm de decidir quem é que é ele», concluiu Rio da Montanha.
Junto à casa da Caixa, alguém deixou um «graffiti» num pequeno quiosque que resume o caso: «Procura-se vivo».
Diário Digital / Lusa
27-10-2007
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