quarta-feira, 30 de abril de 2008

Filho de Horta critica segurança do presidente do Timor

Dili, 29 abr (Lusa) - Loro Horta, filho do presidente do Timor Leste, José Ramos-Horta, está preocupado com o que chama de "circo" da segurança pessoal do chefe de Estado do país asiático.

"Todos continuam a levar as coisas na brincadeira e parece que nada foi aprendido mesmo depois de o meu pai levar três tiros", afirmou Loro Horta, entrevistado pela Agência Lusa em Dili.

"A segurança do meu pai atualmente é uma manta de retalhos e tem que se resolver essa situação", disse. Apesar de afirmar que os agentes de segurança na residência Ramos-Horta "estão a tentar fazer um trabalho sério", o filho do presidente timorense ressaltou a falta de coordenação entre diversas forças e a falta de preparação específica.

A residência de José Ramos-Horta, em Metiaut, na periferia leste de Dili, foi alvo de um atentado em 11 de fevereiro por um grupo liderado pelo major Alfredo Reinado, morto no ataque.

O chefe de Estado timorense, que voltava de sua caminhada matinal, foi baleado por um membro do grupo de Alfredo Reinado e ficou gravemente ferido. A segurança da residência era feita por agentes das Falintil - Forças de Defesa do Timor Leste (F-FDTL).

"Todos têm medo de dizer que as F-FDTL não têm competência para fazer a guarda presidencial ou que enfrentam divisões políticas", afirmou Loro Horta, especialista em assuntos de defesa e segurança.

Comando

Loro Horta criticou a montagem atual da segurança do presidente, feito por efetivos da Unidade de Intervenção Rápida (UIR), Unidade de Reserva da Polícia (URP) e Corpo de Segurança Pessoal (CSP), da Polícia Nacional do Timor Leste (PNTL), e por efetivos da Seção de Operações Especiais (SOE) do subagrupamento Bravo da GNR.

"É uma manta de retalhos de fardas e de unidades que não têm um comando único ou alguém que coordene todos os elementos envolvidos na segurança da casa e que possa dar ordens a todos", disse à Lusa.

"Falam de hierarquia e onde está a hierarquia? Em 2006, durante a crise, toda a segurança do meu pai fugiu, exceto um integrante que continua com ele. Mas são alguns dos que fugiram que, depois, foram aceitos de volta", afirmou Loro Horta.

O filho do chefe de Estado timorense alertou também para o fato conhecido de existir rivalidade e concorrência entre as várias unidades da polícia envolvidas na segurança presidencial.

Loro Horta sugeriu a criação de um novo corpo de segurança, a atribuição da missão de proteger o presidente em uma única unidade ou a contratação de uma guarda presidencial no exterior.

"Não temos capacidade nas forças timorenses para garantir uma segurança efetiva, mas quando sugiro a solução de uma guarda estrangeira acusam-me de ser neocolonialista", disse.

Fatores

Loro Horta reside atualmente em Cingapura, onde é pesquisador na Escola de Estudos Internacionais de S. Rajaratnam, uma das instituições de referência em estudos estratégicos na região Ásia-Pacífico.

"O problema é que nós não devemos agir segundo percepções. As coisas neste país são imprevisíveis, como se tem provado sempre. No Timor Leste, não é possível calcular o risco", afirmou.

Segundo Loro Horta, mesmo entre velhos aliados, surgem agressões. "A verdade é que não sabemos quando o próximo louco vai atuar. Temos uma soma de fatores imprevisíveis, desde as drogas ao trauma".

O ex-militar Marcelo Caetano, integrante do grupo de Alfredo Reinado que disparou contra José Ramos-Horta, é apontado por Loro Horta como exemplo da imprevisibilidade. "Um soldado indisciplinado que o meu pai tentou ajudar em 2006", disse.

"Não vale a pena fazer a reforma que estão a propor. Não estão a enfrentar os problemas reais, apenas estão a avançar com cosmética. Temos que contrariar a lógica das milícias e tem que haver um entendimento entre os senhores da guerra que dominam as forças de segurança", afirmou.

Para o filho de José Ramos-Horta, o problema da guarda presidencial é "o problema fundamental do Timor Leste, a falta de unidade política".

1 comentário:

Anónimo disse...

A ser verdade e' realmente preocupante. Tantos anos depois sera possivel que a guarda presidencial ainda nao tenha tido treino especifico para as funcoes especiais que desempenham?

Para que foi tantos anos de "capacity building". Foi so para escrever relatorios?