Afirma Duarte Nunes, vice-presidente do CNRT
2008-03-11 20:09:33
Díli – O duplo atentado de 11 de Fevereiro acentuou as querelas inter partidárias em Timor. Duarte Nunes, vice-presidente do partido Congresso Nacional de Reconstrução de Timor-Leste (CNRT), considera que se deve afastar a ideia de eleições antecipadas.
O CNRT, partido criado em torno da imagem de Xanana Gusmão, maioritário no seio da Aliança para uma Maioria Parlamentar (AMP) que constituiu o Governo após as últimas eleições em Timor, tem sido alvo de vários ataques da oposição, especialmente da Fretilin, que não reconhece o seu Governo como legitimo e defende eleições antecipadas, sustentando que era um dos objectivos do presidente Ramos-Horta na véspera do atentado.
Duarte Nunes, vice-presidente do CNRT, em entrevista à PNN, disse que participou em várias reuniões com Ramos-Horta e a possibilidade de haver uma eleição antecipada, a pedido da Fretilin, foi abordada. «Esta ideia ficou posta de lado porque teriam de haver razões fortes», avança Duarte Nunes, «razões conforme a Constituição», todos os partidos com assento parlamentar teriam de concordar com «essa ideia da dissolução do parlamento», e considera que ainda não há razões para discutir essa proposta.
Num cenário de eleições antecipadas o CNRT apostaria novamente no carisma de Xanana Gusmão como motor na cativação de eleitores. «O partido nasceu agarrando-se à figura do Xanana» reconhece Duarte Nunes, «as ideias vieram só para reforçar. As pessoas olham mais para o Xanana, e entendem que pelo menos ele ainda pode dar o seu contributo para melhorar a situação que pode ser estragada com esta crise. As pessoas vêem que o CNRT o pode fazer» e sublinha que «não é o programa em si ou as ideias que tentam convencer as pessoas, mas as figuras.»
«Nas campanhas, todos os partidos têm boas ideias, bons programas, mas temos um grande apoio popular. É o que se vê nas campanhas, que quando aparece o Xanana as pessoas sempre se entusiasmaram.»
No entanto a AMP começa a dar sinais de falta de coesão. O vice-presidente do CNRT reconhece algumas «fragilidades» na AMP, mas «em termos de ideias para produzir», sugerindo que para melhorar as coisas «todos têm de estar coordenados», e defende que manter e apoiar o Estado «está acima de tudo.»
«Se, por exemplo, quebrarmos a aliança (AMP), poderemos provocar novas eleições em vez de resolver os problemas dos refugiados, isto é uma ideia destrutiva», considera.
O mesmo responsável político atribui as responsabilidades da actual crise ao antigo Governo da Fretilin: «O problema era interno da F-FDTL (Forças de Defesa de Timor-Leste) que o Governo tinha na mão e podia ter resolvido a nível interno. Mas deixou passar e as coisas correram. Depois o Governo, na pessoa do Ministro do Governo, fez a distribuição das armas. A verdade é que ele foi julgado e está preso. Baseado nisto, podemos entender que a culpa é do Governo da Fretilin. Se esta solução dos peticionários for resolvida, pelo menos as pessoas vão acreditar mais no actual Governo do que na Fretilin. A Fretilin está a tentar esforçar-se para participar, para ter algum mérito na opinião pública, porque eles também contribuíram para o problema.»
Assim, para Duarte Nunes, uma das etapas da resolução da crise em que mergulha Timor-Leste passa pela «captura daqueles que participaram nos ataques (contra Ramos-Horta e Xanana Gusmão)» e não acredita que o grupo de Gastão Salsinha consiga reorganizar-se e cativar as populações. «Eles já estiveram muito tempo com essas populações» considera o vice-presidente do CNRT, «estiveram com eles durante quase um ano, e esta última actuação é uma desilusão, portanto estão praticamente como perseguidos», perante a actual situação o mesmo político defende que a população que eventualmente protegeu os «fugitivos» desligaram-se destes pelo facto de serem homens procurados. «Ajudaram por ajudar, mas aderir às suas ideias é difícil, porque estão apertados.»
A tensão nas ruas de Díli é visível. Duarte Nunes atribui esta tensão ao Estado de Sitio declarado, «é a primeira vez que é declarada em Timor, as pessoas entendem que há um perigo eminente que se aproxima ou pode acontecer» e defende que é uma forma de se «ver se a população se submete ou não à ordem do Estado. O recolher obrigatório é uma forma de educar» e critica a Fretilin de não ter instaurado Estado de Sitio em 2006: «Na altura foi um erro. Podiam ter declarado o estado de sítio. Pelo menos as pessoas ficavam em casa, os que atentavam e infringiam o recolher obrigatório pagavam uma sanção e as coisas não corriam assim tão mal.»
Tiago Farinha
(c) PNN Portuguese News Network
quarta-feira, 12 de março de 2008
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