segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Dalai Lama: Timor têm experiência para resolver problemas

O líder espiritual do Tibete acredita que os líderes políticos de Timor-Leste têm a experiência necessária para ultrapassar os problemas que se colocam à estabilidade do país.

«Não conheço muitos detalhes mas acredito que a liderança [timorense], experiente na luta pela liberdade há muito tempo, conseguirá enfrentar e resolver os problemas e as dificuldades», disse o Dalai Lama numa entrevista à agência Lusa, em Lisboa.

Referindo que «existem semelhanças» entre a história de Timor-Leste e do Tibete - sobretudo devido ao historial de invasão e atentados aos direitos humanos - o Nobel da Paz de 1989 disse que ainda está à espera de receber um convite para visitar o território do mais recente país do Mundo.

«Conheço os dois Nobel da Paz timorenses [D.Ximenes Belo e José Ramos-Horta], especialmente o Ramos-Horta, que conheço bem, mas nunca me chegou nenhum convite», disse o Dalai Lama entre risos.

«Obviamente não é fácil», acrescentou.

Timor-Leste, ex-colónia portuguesa ocupada pela Indonésia em 1975, tem vivido sob tensão política desde a independência em 2002 devido a divergências entre os seus líderes que no ano passado levaram a confrontos que causaram dezenas de mortos.

Sobre a causa tibetana, o líder espiritual tibetano explicou que o Tibete têm hoje menos liberdades - liberdade religiosa e de expressão - do que as outras províncias chinesas.

«O Tibete tem uma herança cultural muito rica e uma situação ambiental única. É lógico que tenha de se organizar de uma forma especial», sublinhou.

Segundo Thenzin Gyatso, o 14º Dalai Lama, «a própria constituição da República Popular da China, logo de início, reconheceu que as áreas minoritárias precisavam de sistemas especiais, isto é, autonomias. Autonomia de região, de distrito e de província não só para o Tibete mas para regiões como Shinjian, a Mongólia Interior e outras».

Uma visão que acabou por ficar distorcida com o passar do tempo.

«Nos anos 1950 o governo chinês, o secretário-geral Mao [Tze-Tung] e Chou Enlai [primeiro-ministro] reconheceram que o Tibete era um caso único. Quando em 1956 Chou Enlai foi a [Nova] Deli - nessa altura eu estava lá - disse ao primeiro-ministro indiano que o Tibete era um caso especial. Creio que essa era uma abordagem muito realista. No entanto, nos dias de hoje as autoridades locais do Tibete entendem ´especial` como ´mais repressão`», lembrou.

«Comparando, existe mais liberdade na China - liberdade religiosa e de expressão - do que no Tibete. No Tibete o controlo é muito rígido. É isso que o Tibete tem hoje de especial», ironizou o Dalai Lama.

Dalai Lama, prémio Nobel da Paz e líder espiritual tibetano, está em Lisboa desde quarta-feira para uma visita que incluiu três dias de ensinamentos, uma conferência pública e encontros com deputados portugueses, com o presidente da Assembleia da República e com o ex-presidente da República Jorge Sampaio.

A visita termina hoje com uma conferência Pública no Pavilhão Atlântico, em Lisboa, subordinada ao tema «O Poder do Bom Coração».

E os portugueses, para o líder espiritual tibetano, têm mesmo «bom coração», embora tenha referido que necessita de visitas mais longas para se aperceber do «calor» lusitano.

Diário Digital / Lusa

16-09-2007

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