terça-feira, 17 de julho de 2007

Timor Leste: Parlamento reconhece Xavier do Amaral como primeiro chefe de Estado


O parlamento reconheceu hoje Francisco Xavier do Amaral como primeiro Presidente da República de Timor-Leste, uma decisão que o decano da política timorense agradece mas considera "muito tardia".


O reconhecimento do estatuto de ex-chefe de Estado, "com todos os direitos, honras e regalias inerentes", foi aprovado por unanimidade do plenário, com 51 votos, anunciou o parlamento num comunicado.

A aprovação do projecto de resolução 91/I/5ª foi uma concessão do partido maioritário, a Fretilin, que "impedia o reconhecimento até hoje", recordou Francisco Xavier do Amaral.

Foi um deputado da bancada da Fretilin, Elizário Ferreira, que apresentou o projecto de resolução para o reconhecimento do "papel desempenhado por Francisco Xavier do Amaral na luta pela independência".

"Telefonaram-me hoje vários dirigentes e eu disse-lhes: se não fosse a pressão do Xanana (Gusmão) e do (Presidente José Ramos) Horta, não tinham aprovado isto", afirmou Francisco Xavier do Amaral.

"Dão-me os parabéns mas não faço anos hoje. Deve ser porque me querem oferecer alguma coisa na mesma", comentou o líder da Associação Social Democrática Timorense (ASDT).

"Lamento que isto tenha vindo tão tarde, mas obrigado a todos. Ainda tenho um ou dois meses para aproveitar o que vier na minha terra. Mesmo a comer batata".

Francisco Xavier do Amaral, 70 anos, é natural de Maubisse.

"Nasci nas montanhas. Se fosse em Portugal, teria nascido na Serra da Estrela. Sou de Turiscaia, a 17 quilómetros do cruzamento de Maubisse", no centro do país, explicou Xavier do Amaral durante a campanha para as presidenciais de 09 de Abril, nas quais obteve o quarto melhor resultado entre oito candidatos.

Em 1974, Xavier do Amaral foi fundador da ASDT (de que ainda é presidente), movimento político que deu origem à Fretilin, de que também foi fundador e que, mais tarde, viria a ser o seu principal inimigo político.

"Fui da Fretilin mas não sou radical. Aliás, a base de Timor é o animismo. O catolicismo e as outras coisas estão por cá há muito mas o animismo continua forte. Penso voltar para a política para concretizar o meu sonho, para criar um Timor independente, para Timor ser feliz e não um Timor para acordar com lágrimas", declarou antes das eleições presidenciais.

O projecto de resolução hoje aprovado recorda que "a Constituição da República, tanto no seu preâmbulo como no seu artigo 1 o, n.o 2, torna claro que 'o dia 28 de Novembro de 1975 é o dia da Proclamação da Independência da República Democrática de Timor-leste'".

"Esta proclamação foi feita pelo Sr. Francisco Xavier do Amaral , então Presidente da FRETILIN, em nome do Comité Central da FRETILIN", refere o diploma.

Francisco Xavier do Amaral "foi de seguida empossado como Presidente da República, tornando-se assim no primeiro Presidente da República Democrática de Timor-Leste", conclui o projecto aprovado pelo Parlamento.

Xavier do Amaral foi chefe de Estado por nove dias, devido à invasão de Timor-Leste pela Indonésia, a 7 de Dezembro de 1975.

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