Vítima do massacre de 12 de Novembro de 1991, Óscar Lima advertiu os governantes do país para não se esquecerem dos jovens que deram a vida pela independência.
Óscar Lima referiu-se a esta questão ao Jornal Nacional Semanário recentemente no seu local de trabalho, em Comoro, Díli, ao expressar os seus sentimentos em relação à comemoração do referido acontecimento.
A seguir, acompanhamos a entrevista completa do jornalista Aleixo Ximenes Alves do Jornal Nacional Semanário (JNS) à vítima do massacre de 12 de Novembro de 1991, Oscar Lima (OL).
JNS : Qual é o seu sentimento ao comemorar o dia do massacre de 12 de Novembro ?
OL : Em primeiro lugar, dou os meus parabéns aos jovens sobreviventes do massacre que organizaram este evento em memória dos seus colegas que deixaram as suas vidas deste mundo.
Em segundo lugar, desejo afirmar que não fui a única vítima. Como é do nosso conhecimento, muita gente deu as suas vidas para a independência do nosso país. Portanto, não quero autodenominar-me vítima ou denominar um ou dois colegas como vítimas. Muita gente sofreu. Para mim o importante é que qualquer partido que governe o país não pode esquecer o dia 12 de Novembro, o dia em que os jovens sacrificaram as suas vidas pela independência. Uma situação que não era fácil. Tombaram mais de 300 jovens, portanto não devemos esquecer as suas contribuições. Através das comemorações do dia 12 de Novembro peço a todos nós para que não nos esqueçamos deste dia histórico a fim de homenagear os nossos jovens vítimas da tragédia.
JNS : Quais as iniciativas que deverão ser tomadas pelo Governo em relação aos jovens que tombaram no dia 12 de Novembro?
OL : Caso seja possível, que o Governo construa um monumento ao dia 12 de Novembro, uma forma de homenagem aos jovens que tombaram nesse dia. Construir uma cruz enorme, ou um monumento qualquer, que recorde o dia 12 de Novembro. Senão, esquecer-nos-emos desses jovens que deram as suas vidas pelo país. Temos de direccionar as nossas atenções mais aos que tombaram do que aos sobreviventes. O passado vai ficar na História mas devemos contar a História como deve ser. Devemos ser claros, o Governo não se pode esquecer do dia 12 de Novembro e das famílias das vítimas. Não só os que tombaram no dia 12 de Novembro mas todas as vítimas que deram as suas vidas pelo País. Lembro ainda ao Chefe do Governo, Kay Rala Xanana Gusmão, que esquecer esse dia seria um grande erro. Espero que o Primeiro-Ministro não esqueça. E todos os membros do Governo que com ele colaboram devem contribuir também para o efeito. Não devem pensar que por serem membros do Governo podem esquecer as coisas que aconteceram no passado, em essencial as vítimas de luta pela independência do País.
JNS : Segundo o seu ponto de vista, as vítimas do massacre de 12 de Novembro de 1991 estão identificadas no seu total?
OL : Penso que muitas vítimas ainda não foram encontradas. Se permanecemos em Timor-Leste soubemos disso. As crianças que nasceram há pouco tempo sabem, os velhos sabem que até à data ignoramos o paradeiro de muitos restos mortais de vítimas. Onde é que estão os seus túmulos? Esse é um problema fundamental que necessita de uma iniciativa e atenção do Governo. Na minha opinião, em primeiro lugar é preciso identificar se os pais das vítimas ainda se encontram vivos. Se têm mulher e filhos. Temos de dedicar a nossa atenção a essa questão. Senão, os sobreviventes recebem benefícios, ao contrário dos tombados da tragédia que sacrificaram as suas vidas pelo País, cujos filhos não frequentam escolas. Eu próprio conheço esse caso porque tenho familiares que vivem essa situação. Então, devemos dedicar-lhes a nossa atenção porque eles merecem mais atenção do que os sobreviventes.
JNS : Os jovens que tombaram no massacre estão todos incluídos na lista?
OL : Penso que o nosso Primeiro-Ministro e ex-Presidente da República, Kay Rala Xanana Gusmão, criou uma comissão com o objectivo de levantar dados. Esse levantamento foi feito. E através desse levantamento de dados todas as vítimas serão registadas. Os responsáveis do levantamento de dados é que devem apresentar o resultado desse estudo com seriedade, porque foi com a contribuição dos que sacrificaram as suas vidas que hoje podemos gozar a independência, podemos ter um Governo, Instituições, um Parlamento, uma Bandeira e um Hino Nacional. Não neguemos isto. Portanto pedimos à Comissão de Levantamento de Dados para não dar prioridades aos colegas e familiares. Trabalharmos desta forma é um grande erro.
JNS : As famílias das vítimas exigem justiça ao Governo indonésio. Qual é o seu comentário?
OL : Esta questão não é da minha competência, portanto não posso responder e ela. Quem é que deve responder? O Presidente da República, Primeiro-Ministro e os responsáveis pela área da justiça no país. Como cidadão e como colega das vítimas, apenas quero solicitar para que não esqueçamos o dia 12 de Novembro e as famílias das vítimas que sobrevivem no país. Devemos dar-lhes toda a nossa atenção, o que é muito importante. O Governo tem de assumir uma responsabilidade clara. O Senhor Xanana Gusmão era Comandante em Chefe. Peço desculpa, muitas mensagens vieram do Senhor Xanana Gusmão. É actual Chefe de Governo. Os governantes devem implementar os programas do Governo anunciados ao público. Eu pessoalmente falei com o Primeiro-Ministro. Pedi para os programas do Governo serem implementados positivamente. Peço em essencial aos seus colaboradores, ministros e secretários de estado que colaborem para que tudo possa decorrer bem. Pelo contrário, não reconheceremos o sacrifício dos que tombaram, não reconheceremos aqueles que deram as suas vidas pelo País.
JNS : Lembra-se de quando os jovens estavam a realizavar a manifestação? Tinha sido imaginado que essa acção causaria o massacre porque o controle de segurança estava nas mãos dos militares indonésios?
OL : Não quero dizer se participei ou não participei na altura. Mas quando tomamos uma medida ou uma decisão parece-me que já contamos com os riscos. Os riscos foram o facto de termos perdido muitos irmãos, muitos familiares e muitos colegas. Foram os maiores riscos. Mas como benefício destes riscos, hoje em dia podemos ganhar o seu resultado. Quero salientar que, ao actuarmos, contávamos com as pancadas, morte e outros riscos.
JNS : Tinha previsão que da manifestação resultariam mortes?
OL : Penso que, antes de fazermos estas coisas, os jovens de então que participaram na manifestação sabiam que iriam enfrentar riscos. Apanhar pancadas e morrer. Toda a gente sabia que na altura os militares indonésios estavam preparados para actuar nestas situações.
JNS : Há alguma mensagem que queira deixar aos nossos jovens?
OL : Muitos jovens tombaram para ganhar a independência do nosso País. Peço aos jovens a unidade entre si. Devem desprezar as palavras " Lorosa'e e Loromonu ", aliás, leste e oeste, e colocar a unidade acima de tudo. Porque não havia " Lorosa'e " nem " Loromonu ", como uma parte que lutou sozinha para alcançar a independência. Foi com a unidade de ambas as partes na luta que alcançámos a independência. Falamos de " lorosa'e " relativamente aos naturais de Baucau e de " loromonu " aos naturais de Maliana. É verdade que denominamos " lorosa'e " ou leste porque é o lugar onde o sol nasce e " loromonu " ou oeste porque lá é onde o sol se põe. Isto não deve ser utilizado para dividir o povo deste País. Isso não é justo. Peço aos jovens para não colocarem na mente estas ideias negativas mas que as deixem para trás e tenham boas e novas ideias para se desenvolverem a si mesmos e à Nação. A nossa luta principal nesta era é desenvolvermo-nos a nós mesmos, desenvolver a nossa Nação, através das nossas contribuições no processo nacional, em vez de criarmos conflitos entre nós. JNSemanário.
terça-feira, 20 de novembro de 2007
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