terça-feira, 28 de agosto de 2007

Timor Leste: Isto é história, história da resistência, história do sofrimento, história de sangue.

UMA HISTORIA EM 8 CAPITULOS:

Capitulo 4

Mensagem de S.E. o Presidente da República

Queridos Companheiros membros da FRETILIN


Em 1998, se eu não me engano, no período da Reformasi na Indonésia, eu mandei Mau Hodu a Sydney e escrevi à FRETILIN para se organizar como partido, para mostrarem a sua orientação político-ideológica. Foi sob o chapéu do CNRM e do CNRT que o Povo ganhou em Agosto de 1999. Isto é história, história da resistência, história do sofrimento, história de sangue. Hoje em dia, nós ouvimos que só a FRETILIN é que fez a luta. Não importa, vocês é que são os donos da luta, aceitamos, não deitem areia para os olhos do povo porque é todo o povo que vota e não apenas a FRETILIN.

Em Maio de 2000, a FRETILIN convidou-me a falar na sua Conferência, no GMT [Ginásio], neste momento rebaptizado GAT. Pedi três coisas à FRETILIN:

- primeiro, rever, reavaliar o caso de Xavier do Amaral, porque ele não é um traidor na nossa terra, apenas porque não aceitou a ideologia adoptada pelo Comité Central, em Laline, em Maio de 1977.

- segundo, para limparem o nome de todos os que a FRETILIN assassinou porque os considerava traidores, mas que não eram traidores, apenas não aceitavam a ideologia marxista-leninista, e para que as suas famílias possam estar descansadas.

- terceiro, que a FRETILIN pedisse desculpa ao Povo, sobretudo aos familiares das vítimas.

Naquela Conferência eu disse isto: "Como membro do Comité Central da FRETILIN, desde o início até meados da guerra, todas as coisas boas que a FRETILIN fez, eu também fiz parte, as coisas más que a FRETILIN, porventura, tenha feito, eu também tenho a minha responsabilidade. Não é por eu ter deixado a FRETILIN que lavo as minhas mãos.

Eu também pedi, caso a FRETILIN tomasse uma decisão política acerca destes pedidos, que eu próprio iria ter com o povo e pedir desculpa e explicar as razões e pedir às famílias para compreenderem os erros cometidos no passado.

Passados estes dias, convidaram-me para ir à festa da FRETILIN, dia 20 de Maio de 2000, no Estádio e, depois do discurso de Lu-Olo, eu perguntei-lhe e ao Mari acerca dos pedidos que fiz na Conferência. Eles responderam que tinham constituído uma comissão para tratar desses assuntos.

Em Agosto de 2000, no Congresso do CNRT, a FRETILIN isolou-se, saindo do CNRT. Nós permanecemos calmos, continuámos a trabalhar seguindo o processo político que a UNTAET delineava, até Junho de 2001, data em que foi dissolvido o CNRT, porque terminara a sua missão.

Em Janeiro de 2000, Ramos-Horta fez-me saber que era melhor falar com o Mari. Eu respondi que foi a FRETILIN que abriu a porta do CNRT para sair e que ninguém a fechou, pelo que se quiserem voltar que o fizessem. Mari veio falar comigo à sede do CNRT em Balide.

Ele disse-me que saíram porque estavam zangados comigo, porque eu deixei algumas pessoas falarem no Congresso rebaixando o nome da FRETILIN. Estas pessoas eram vítimas da violência política da FRETILIN no mato.

Eu respondi-lhe um pouco zangado: "Você esqueceu-se das três coisas que pedi na vossa Conferência em Maio. Limpar o nome das vítimas ou pedir desculpa ao Povo, não é rebaixar a FRETILIN mas concertar ou limpar o nome da FRETILIN".

Eu disse-lhe também: "Você não tem razão para temer, porque o Sr. pode dizer ao Povo o seguinte: Eu, Mari, não tenho nenhuma razão para estar contente por causa das razões erradas que aconteceram dentro de Timor. Eu, Mari, em Maputo, sofrendo durante 14 anos, lavo as minhas mãos todos os dias com sabão. Eu, Mari, tenho as mãos limpas, se quiserem pedir, vão pedir a Xanana, as mãos dele é que estão sujas, as mãos dele é que estão ensanguentadas."

Eu continuei a dizer: "Se o Sr. continuar a falar assim, eu aceito, e eu irei pedir desculpa ao Povo quando a FRETILIN tomar a decisão política acerca disso".

No "Lapangan Pramuka", agora designado "Campo da Democracia" todos os partidos políticos assinaram que iriam constituir um Governo de Unidade Nacional. Quando a FRETILIN ganhou afastou-se do compromisso político que aceitara. Se não queria aceitar, não necessitava de lá ir assinar, em vez de ir assinar e, no fim, virar as costas às palavras que tinham assumido.

Isto é tal e qual como na Constituição que eles fizeram, as leis que eles fizeram. Eles fizeram, viraram as costas, não cumpriram.