quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

O enfermeiro que salvou a vida a Ramos-Horta

Jorge Marques é enfermeiro no hospital de Portalegre


Hugo Alcântara

Uma coincidência poderá ter salvo a vida ao presidente da República timorense. Jorge Marques, enfermeiro do INEM, foi o primeiro a chegar à zona do atentado, no pretérito dia 10. Não percebeu de quem se tratava, mas avançou no auxílio. "Correu bem", afirma orgulhoso.

Na altura do tiroteio já o enfermeiro estava pronto e dentro das viaturas do subagrupamento Bravo da GNR. Todos tinham missão atribuída, mas para um exercício de carreira de tiro. De repente, as ordens mudaram "O comandante falou em tiros na praia e avançámos para o local". As coordenadas coincidiam com a casa do chefe de Estado. "Chegámos muito depressa. Em segundos a Guarda fez segurança do local e comecei a trabalhar".

Depois de passar por duas pesoas pelas quais já nada poderia, fazer encontrou um terceiro indivíduo, em camisola de alças e calças de fato de treino, deitado no chão, barriga para baixo, que "sangrava abundantemente de dois ferimentos de bala na zona dorsal". Prestados cuidados e estancada a hemorragia, "pedimos ajuda para virar o corpo e, de imediato, reconheci o presidente", mesmo sem óculos.

Antes do transporte para o hospital, o enfermeiro português falou com Ramos-Horta, na tentativa de o manter consciente. "Ele queixava-se de muitas dores e fazia insistentemente a mesma pergunta 'Por que me atingiram?'". O enfermeiro não soube responder, nem ouviu nenhum esclarecimento. "Se ele sabe quem atirou, connosco não falou sobre isso". Nem disso nem da razão de ir para casa depois de ter sido avisado que estava debaixo de fogo. Aí Jorge Marques já tem uma meia explicação, que lhe chegou pela voz do povo. "Ele ficou muito preocupado com os membros da sua família, por isso insistiu em regressar".

O socorro foi eficaz e, numa fase intermédia, envolveu o restante pessoal médico nacional no território. Recorde-se que, apesar de equipado, o INEM não está vocacionado para aquele tipo de intervenção em Timor, dado que a sua presença no território visa, essencialmente, o apoio aos portugueses em serviço na região. A prontidão do enfermeiro, que chegou sozinho, deveu-se também à feliz coincidência de estar com a GNR no sítio certo. E à hora certa.

Depois de cumprir 53 dias ao serviço do INEM, em Timor, o profissional de saúde já regressou a Portugal e à normalidade de funções. Ontem reassumiu a direcção de controlo de risco no hospital de Portalegre, onde é também chefe da equipa da VMER (viatura médica de emergência) estacionada no distrito. Agora, é tempo de contar a história e recordar um dos dias mais intensos da sua vida, que coincide com um dos mais trágicos do novo país.

"Na altura nem pensámos... Perante uma pessoa a sangrar, interessa é salvá-la. Depois sim, horas depois, quando se reflecte e se percebe o risco é que há algum medo", remata.

1 comentário:

Anónimo disse...

Medalhas ja ao enfermeiro e aos GNR que socorreram Presidente Horta.