domingo, 10 de fevereiro de 2008

Timor-Leste/Governo: Reinado não é ameaça à estabilidade

O fugitivo Alfredo Reinado «não é uma ameaça real à estabilidade» de Timor-Leste, declarou hoje à Agência Lusa em Díli o primeiro-ministro timorense, Xanana Gusmão.
«Da parte do Estado, Alfredo Reinado não é uma ameaça real à estabilidade», afirmou Xanana Gusmão numa entrevista de balanço dos primeiros seis meses do IV Governo Constitucional, que se completam sexta-feira.
«Da parte da população, (Reinado) é uma ameaça, já que ele não actuou sozinho e os jovens saíram para a rua em Díli quando viram o ataque a Same», por tropas australianas, a 03 de Março de 2007, referiu.
«Os jovens aqui, em Díli, acham-no como herói. Há boa gente que eu conheço e de quem sou muito amigo e (o apoio) é mais por uma questão de vingança política», acrescentou Xanana Gusmão sobre o ex-comandante da Polícia Militar timorense e um dos protagonistas da crise de 2006, que levou à queda do governo chefiado pelo líder da Fretilin, Mari Alkatiri.
«Não é em termos de crença ou de pensamento, mas por causa do começo do problema, com uma frase que surgiu a certa altura e sem a qual os peticionários praticamente não teriam tido grande impacto», sublinhou Xanana Gusmão.
A frase é «vocês do oeste não lutaram», precisou, referindo-se à alegada diferença de contribuições para a luta contra a ocupação indonésia consoante a origem geográfica.
«Dentro deste mal-estar político, que assolou a consciência de muitos combatentes da libertação nacional, o Alfredo apareceu como o que reporia, não a verdade dos factos, que já existiu, mas um contrapeso dessas coisas», disse.
«Criou-se e continua a alimentar-se uma imagem que eles estavam a necessitar. Não é exactamente um conflito de gerações porque quem lhe dá maior apoio é uma geração velha da parte oeste, de quadros clandestinos com quem eu estou sempre em contacto e a tentar lavar-lhes o cérebro», explicou o primeiro-ministro, rindo.
O caso de Reinado «não é uma guerra de legitimidade e comigo muito menos. São pessoas que eu conheço (que o apoiam) e se eu os mando para o Ramelau eles vão, se eu os mando vir eles vêm», sublinhou Xanana Gusmão.
O problema, acrescentou o primeiro-ministro, é que Alfredo Reinado «surgiu num mal-estar político que, com o correr do tempo, se tornou numa figura de quem eles necessitavam».
Xanana Gusmão defendeu na entrevista à Lusa que «devia-se ser mais duro» com Alfredo Reinado, um homem que «não merece confiança porque muda todos os dias de opinião».
O primeiro-ministro recordou inúmeras reuniões «quentíssimas» que teve enquanto Presidente da República e adiantou que «o Estado ia fazer uma concessão inédita que era enviar o tribunal a Gleno fazer uma audição sobre o caso do Reinado», no início de 2007.
«O próximo passo seria discutir com Reinado para ele não entrar com armas no tribunal e foi então que ele tirou as armas» a três postos de polícia fronteiriça em Maliana, oeste, em Fevereiro de 2006, contou.
«Discutimos todas as opções possíveis mas sempre chegámos à opção moderada», recordou o primeiro-ministro.
«Aí é que a componente pensante da sociedade timorense peca por demasiada divergência de opiniões», notou Xanana Gusmão sobre a estratégia que tem sido seguida pelo Estado timorense.
«Há partidos envolvidos, e quando digo partidos não digo Fretilin, digo partidos no plural. Há líderes envolvidos, organizações e grupos. Nós estamos divididos na percepção da substância», disse o primeiro-ministro.
«É gente a mais e é por causa disso mesmo» que ainda não se resolveu a questão, acrescentou.
Alfredo Reinado, fugido à justiça desde Agosto de 2006, está acusado de homicídio, rebelião e posse ilegal de material de guerra.
O militar foi um elemento central na crise política e militar de 2006, desencadeada por um grupo de peticionários das Forças Armadas e que deixou, até hoje, uma herança de 100 mil deslocados internos.
Para Xanana Gusmão, o caso de Alfredo Reinado, a situação dos peticionários e os deslocados são problemas «interrelacionados» aos quais o seu governo procura dar uma resposta abrangente.
«Há-de chegar o momento em que, antes de ir aos deslocados, eu tenho que lidar com os peticionários», afirmou Xanana Gusmão.
Diário Digital / Lusa

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