Díli, 19 Fev (Lusa) - A Fretilin não iria reconhecer o Governo de Xanana Gusmão com o acordo interpartidário que estava a ser promovido pelo Presidente de Timor-Leste, José Ramos-Horta, disse hoje à agência Lusa o secretário-geral da Fretilin, Mari Alkatiri.
"De modo algum iríamos reconhecer o Governo. Iríamos sim cooperar com sentido de Estado para resolver os problemas que são de todos nós, que não são só problemas do Governo", afirmou Mari Alkatiri.
O líder da oposição e ex-primeiro-ministro identificou os problemas dos deslocados, de Alfredo Reinado (antes da sua morte) ou dos peticionários como "problemas do país, do Estado, que exigem que todos se juntem para resolver", posição que "não significa reconhecer o Governo".
Apesar de assumir que o acordo não implicava reconhecer o Executivo de Xanana Gusmão, Mari Alkatiri admite, contudo, que estaria disponível para uma eventual revisão da Constituição.
"Se há artigos (referentes à questão da formação do Governo) que não são claros para alguns podemos estudar isso para tornar cada vez mais claro", disse.
"A Constituição da República Democrática de Timor-Leste é para estar em vigor durante décadas ou séculos e por isso é bom que, se há artigos que criaram algum conflito, esses artigos sejam tornados claros", acrescentou Mari Alkatiri ao salintar que foi a Fretilin que escreveu o texto fundamental e que previa a sua revisão a partir de 2008.
Alkatiri confirma ainda a manifestação de vontade de Ramos-Horta em convocar eleições antecipadas para o Parlamento e chefia do Estado em 2009 e a necessidade de realizar mais algumas reuniões entre os partidos políticos para chegar a um acordo global de soluções para os problemas que afectam o país.
Nas declarações à agência Lusa, Mari Alkatiri subscreve também a posição revelada em Lisboa pelo líder do PSD, Mário Carrascalão, ao salientar ser uma "opção errada" entregar o comando das opções de captura do ex-tenente Gastão Salsinha e do seu grupo às Falintil-Forças de Defesa de Timor-Leste (F-FDTL).
"Colocar as F-FDTL atrás do grupo do Salsinha vai fazer crescer o problema que já existia entre o grupo do Salsinha e as próprias F-FDTL o que significa que pode aprofundar a crise leste/oeste (lorosae/loromonu) de novo", afirmou.
O Governo timorense entregou domingo o comando das operações de busca e captura do grupo de Gastão Salsinha ao chefe do Estado-Maior General das F-FDTL, brigadeiro-general Taur Matan Ruakàs F-FDTL.
Alegadas discriminações no seio das F-FDTL a favor de naturais do leste do país estiveram na base da crise de 2006, que resultou no despedimento de cerca de 600 militares (os peticionários) pelo Governo então liderado por Mari Alkatiri, que acabou por deixar o cargo, e em confrontos que provocaram mais de 30 mortos e 150 mil desalojados.
Sobre o ataque a Xanana Gusmão, Mari Alkatiri sublinha parecer estar-se perante um "filme de ficção" porque, garante, numa "emboscada com espingardas-metralhadoras naquela curva, ninguém sairia vivo".
"Montagem! Quem o teria feito? Parece que estamos um pouco num filme de ficção", disse Mari Alkatiri ao recordar que nenhum dos veículos da comitiva do chefe do Governo tem alguma protecção especial de blindagem.
O líder da Fretilin continua também com dúvidas sobre os ataques de 11 de Fevereiro, explica que para si "não há ainda luz ao fundo do túnel" e que se fosse investigador, as "primeiras pessoas que iria questionar eram aqueles que estavam em casa de Ramos-Horta".
"Depois de ter sabido que o Alfredo (Reinado) tinha morrido uma hora antes (de Ramos-Horta ter sido ferido) tornou-se ainda mais estranho para mim", afirmou ao interrogar "quem, afinal, tentou matar José Ramos-Horta?".
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